Escrita, poesia e inspiração.


05/01/12 – 12:00 às 13:30

Nunca fui daquele tipo de escritora que cospe o que sente nos textos sem métrica nenhuma e depois vai remontando tudo para haver algum sentido intelectual e/ou psicológico. Sempre tratei as palavras com todo o cuidado que elas merecem e fui adequando-as conforme meu sentido e vontade, mas sem deixar de lado a ideia inicial, por mais que por vezes ela seja desconhecida aos olhos não-íntimos que me leem e aos íntimos o bastante que fazem nascer tudo o que lhes digo. Essa mania quase obsessiva me leva a sempre decorar as primeiras linhas das prosinhas, poemas, textos que escrevo pelas tamanhas vezes que as releio e reescrevo. O início é o ponto chave de qualquer escrita, é onde o sentido se estabelece e começa a se desenvolver, e quase sem reparar, usar de artimanhas às vezes ocultas para atrair o leitor e fazê-lo chegar até o final, mantendo sempre a intensidade ou doçura que já lhe é condenado no exato momento que começa a passar os olhos pelo título e se interessar por qualquer ideia errante.

A escrita é como uma transa com uma mulher doce e sensual, as mãos que tateiam as teclas surdas do computador são as mesmas que percorrem seu corpo e a boca, essa que recita e cria o sentido oral do texto, que por sinal também é a mesma que ao entrar em contato com a pele causa fortes arrepios e excitações internas e externas. As encenações dramáticas de um texto (que às vezes estão presentes sem nem repararmos) se encaixam como as paranoias e charmes que a mulher em questão usa para prender nossa atenção de todas as maneiras possíveis. Digo “nossa”, pois independentemente da sexualidade posta em questão o ser humano tem uma tendência quase genética para prender-se a charmes e elegâncias que se escondem por ai e passam por nossos olhos, da mesma maneira que conseguem se prender a uma boa crônica quando é de seu agrado e afeição.

Mas sem pensarmos com mais relevância nisso tudo, o que nos faz escrever com a totalidade de um poeta, o sentimento de um adolescente no ápice do seu amor e ainda junta-lo com a sensatez e conhecimento de um ancião? A vida, a mente, a intelectualidade não são nada sem a inspiração, ah... A inspiração é mundana e decorrente. Um exemplo disso é que o que me inspirou a escrever esse texto agora foi o simples pensar em por que escrevo tanto. Escrevo por que preciso e isso encaro como um fardo que carrego desde o dia de meu nascimento, isso é mais importante que qualquer outra coisa que venha se entrelaçar no sentido figurado de minha vida e futuro. Escrever é necessidade, é voz, é luz, está no sangue e nas veias que pulsam esse palavreado simples que vos lê agora. Escrever é pensar e pensar é o que nos faz humanos e talvez mais conscientes de algumas coisas que os outros seres vivos (por mais que às vezes eu presencie algumas atitudes humanas que me faça discordar desses princípios básicos sobre ações e pensamentos.

Entretanto nada disso seria aqui exposto se não fosse essa energia que algumas coisas nos trazem, essas singularidades vivenciais que deixam a boca do poeta cheia de palavras para soltar. Isso é único e pessoal, mas posso dizer: Nada me inspira mais que um sorriso doce, um chá gelado e um poema que seja quente a ponto de ferver meus neurônios e se resultar em mais um monte deles.